Concerto de Encerramento
Nicola Benedetti, Orquestra do Algarve e Pablo Urbina

22 JUNHO

19:00, Auditório Jorge Sampaio, Centro Cultural Olga Cadaval

Nicola Benedetti, violino

Pablo Urbina, maestro

Orquestra do Algarve

Programa:

Carl Philipp Emanuel Bach, Sinfonia em Mi-bemol Maior, H.664

Wolfgang Amadeus Mozart, Concerto para violino n°3 em Sol maior, K.216

Ludwig van Beethoven, Sinfonia nº7 em Lá Maior, Op.92

Sinopse:

As duas primeiras obras deste programa dão-nos uma visão do cruzamento de gerações e evolução estilística em finais do século XVIII, pois tanto a Sinfonia de Carl Philipp Emanuel Bach como o Concerto de Mozart foram compostos em 1775.

De CPE Bach, o mais ilustre filho de Johann Sebastian Bach, dá-se a ouvir uma das sinfonias que escreveu no período em que esteve ao serviço de membros da família real da Prússia em Hamburgo, que correspondeu aos últimos 20 anos da sua vida (1714 - 1788). Bach sucedeu como mestre de capela na cidade alemã a Georg Philipp Telemann, ilustre compositor do barroco alemão que era, coincidentemente, seu padrinho.

O estilo desta sinfonia é fascinante na sua forma profundamente híbrida e reflexo do cruzamento de estilos. Se por um lado incorpora já diversos elementos da forma clássica, por outro mantém-se filiada à estrutura em três andamentos, ao invés da forma em quatro andamentos típica do classicismo.

São também dignos de nota os incontáveis solos nos instrumentos de sopro, que alternam com tutti enérgicos de toda a orquestra, fazendo pensar num Concerto Grosso barroco onde, no entanto, já está ausente a figura do cravo e do baixo contínuo.

No mesmo ano, e cerca de 900 quilómetros a sul, um jovem Mozart de apenas 19 anos escrevia o seu terceiro concerto para violino na cidade de Salzburgo, um exemplo da completa assimilação das formas musicais do seu tempo pelo ainda adolescente Mozart.

De acordo com a correspondência entre Wolfgang e o seu pai Leopold, este concerto poderá ter tido o seu terceiro andamento inspirado numa sinfonia de Carl Ditters von Dittersdorf que o compositor terá ouvido em Estrasburgo numa das muitas viagens pela Europa que fizeram de Mozart um dos mais cosmopolitas e mundividentes músicos do seu tempo, sendo lendárias as primeiras digressões, ainda criança, conduzidas pelo seu pai.

No total, Mozart compôs cinco concertos para violino, todos entre 1772 e 1775. Esta mão cheia de composições representa, desde então, o pináculo do estilo clássico para violinistas e também para a escrita para este instrumento, que Mozart veio a preterir em detrimento dos concertos para piano, nos quais se apresentava como brilhante solista, tendo escrito mais de vinte.

Assim, qualquer concerto para violino de Mozart é como um retrato perfeito do compositor na sua primeira maturidade, alternando deliciosas melodias com um jogo equilibrado com a orquestra. Especialmente digno de nota é o Adagio deste terceiro concerto, em que as cordas da orquestra tocam com surdina, provocando um efeito verdadeiramente íntimo e pacífico, que prepara a vivacidade do terceiro e último andamento.

A Sétima Sinfonia de Beethoven, escrita e estreada em 1813, é um caso de grande sucesso na carreira do compositor alemão.

Estreada num concerto que era uma demonstração de patriotismo e apoio às tropas austríacas na sua campanha contra Napoleão, na mesma noite Beethoven deu também a ouvir pela primeira vez a sua composição patriótica intitulada A Vitória de Wellington, uma partitura orquestral concebida para celebrar e assinalar a vitória do Duque de Wellington sobre os franceses na batalha de Vitória, em Espanha, ocorrida apenas seis meses antes.

O grande sucesso da noite foi, porém, a Sétima Sinfonia, desprovida de qualquer conteúdo programático ou mesmo patriótico, assumindo-se apenas como uma grande e ambiciosa sinfonia, cheia de melodias inesquecíveis e passagens dignas de arrepios.

O seu impacto foi de tal ordem que o segundo andamento teve de ser bisado imediatamente, antes mesmo de se ouvirem o terceiro e quarto. O sucesso da sinfonia fez com que prontamente se organizassem outros concertos para ser dada a ouvir mais vezes, o que segundo relatos próximos de Beethoven, terá contribuído para o livrar da situação de penúria iminente em que então se encontrava.

Importa também referir que a orquestra que estreou esta sinfonia se compunha de muitos dos melhores músicos e instrumentistas disponíveis em Viena à época, o que terá contribuído para uma interpretação de alto nível, circunstância que nem sempre acontecia com a estreia de obras orquestrais de Beethoven.

Sobre os artistas:

Nicola Benedetti

Nicola Benedetti, nascida na Escócia em 1987, é uma das violinistas mais requisitadas da sua geração a nível mundial. A sua capacidade de cativar o público e o seu amplo apelo como defensora da música clássica fazem dela uma das artistas mais influentes da atualidade. 

A sua atividade passa pelas mais importantes salas de todo o mundo, em colaborações regulares com orquestras, solistas e maestros da elite mundial, e toca um violino Stradivari de 1717.

A sua presente temporada de 2024-2025 teve início com uma apresentação do Concerto para Violino de Marsalis com a Orquestra Nacional Belga num programa que incluiu a Quarta Sinfonia de Marsalis, "The Jungle", com a Orquestra de Jazz do Lincoln Center.

Regressou à Orquestra Sinfónica de Londres para interpretar o Concerto para Violino MacMillan com Gianandrea Noseda e terminará a temporada da Orquestra de Câmara Escocesa tocando o Concerto para Violino de Brahms dirigido por Maxim Emelyanychev.

Vencedora de um Grammy para Melhor Solo Instrumental Clássico em 2020, bem como Melhor Artista Feminina nos Classical BRIT Awards de 2012 e 2013, Benedetti grava em exclusivo para a Decca.

As suas últimas gravações do Concerto de Vivaldi e do Concerto para Violino de Elgar entraram em primeiro lugar na tabela oficial de álbuns clássicos do Reino Unido. Outras gravações recentes incluem o seu álbum vencedor de um Grammy, escrito especialmente para ela pelo músico de jazz Wynton Marsalis: Concerto para Violino em Ré e Dance Suite para Violino Solo. Em 2021, a BBC Music Magazine nomeou-a “personalidade do ano” pelo seu apoio online a muitos jovens músicos durante a pandemia.

Nicola Benedetti sempre foi uma embaixadora e líder dedicada e apaixonada na educação musical e o seu empenho foi reforçado em 2019, quando fundou a Fundação Benedetti, que nos seus primeiros quatro anos, trabalhou com cerca de 70.000 participantes de todas as idades e níveis, instrumentistas e não instrumentistas, em 105 países. Os seus recursos de vídeo educativo online gratuitos ‘With Nicky’ e outros conteúdos tiveram mais de 6 milhões de visualizações.

Benedetti foi nomeada Cavaleira do Império Britânico (CBE) em 2019, recebeu a Medalha da Rainha para a Música (2017) e foi elevada a Membro da Ordem do Império Britânico (MBE) em 2013. Além disso, Nicola ocupa os cargos de Vice-Presidente das Orquestras Nacionais Infantis, Big Sister do Sistema Scotland, mecenas da Orquestra Júnior das Orquestras Nacionais Juvenis da Escócia, Music in Secondary Schools Trust e Conservatório Júnior no Royal Conservatoire of Scotland.

Em outubro de 2022, Nicola tornou-se a Diretora do Festival Internacional de Edimburgo. Ao assumir o cargo, tornou-se a primeira escocesa e a primeira mulher diretora do festival desde que este começou em 1947.

 

Pablo Urbina

O maestro espanhol Pablo Urbina dedicou os últimos 30 anos da sua vida a transformar a sociedade através da música. Embaixador da The Amber Trust no Reino Unido, Urbina trabalhou com diversas orquestras, incluindo a Royal Liverpool Philharmonic Orchestra, Orquestra Nacional de Rádio de Espanha, Waco Symphony, The Hallé, Ulster Orchestra, Orquestra Sinfónica de Castilla y León, City Chamber Orchestra of Hong Kong, bem como a Orquestra Filarmonia das Beiras e a Orquestra da Madeira, em Portugal. Em 2023, Urbina conquistou o 3.º lugar no Concurso Internacional de Maestros da Siemens Hallé e foi semifinalista do Concurso Internacional Maestro Solti em 2017.

O núcleo da sua filosofia enquanto maestro reside na sua profunda paixão pela inclusão musical e pela educação, com o intuito de colocar a música no centro das comunidades. Participou em iniciativas como o Festival Internacional de Música de Setúbal e a Orquestra Nacional de Jovens. Urbina é também defensor da criação de novas obras e do resgate de repertório esquecido de raízes hispânicas e ibéricas. Natural de Pamplona, Espanha, concluiu em 2014 o seu Mestrado em Música no Royal College of Music, em Londres, como bolseiro. É profundamente grato aos muitos mentores que têm apoiado o seu percurso, entre eles Julián Cano, Kristy Morrell, Alisa Willett, Manvinder Rattan, Michael Seal, Peter Stark e Philip Keller.

 

Orquestra do Algarve

Fundada em 2002, a Orquestra do Algarve é uma das Orquestras Regionais do nosso país e tem-se orientado pela exigência da mais elevada qualidade artística, no cumprimento de uma missão de importante carácter regional e cultural.

Tem como principais objetivos promover e divulgar a música clássica em todas as camadas sociais no Sul do país, não só contribuindo para elevar o nível cultural da população a quem se dirige, como também desenvolver uma ação pedagógica junto das camadas mais jovens, procurando enriquecer e diversificar a oferta cultural na região do Algarve.

Composta por músicos de catorze nacionalidades, selecionados em concurso público internacional, a Orquestra conta, atualmente, com Pablo Urbina na sua equipa artística como Maestro Titular.

A Orquestra do Algarve foi pioneira na gravação discográfica do repertório português, realizando inúmeros registos para a Naxos sob a direção do maestro Álvaro Cassuto.

Tem-se apresentado em incontáveis festivais e palcos de Portugal e Espanha, tendo recentemente gravado concertos ao vivo para a RTP e RTP Palco, sob a direção de Martim Sousa Tavares.

Em 2019, deu início ao seu Coro Comunitário, com a missão de interpretar repertório coral sinfónico, alargando assim a programação musical da orquestra e incorporando músicos amadores e entusiastas do canto coral, num projeto que conta com a coordenação do barítono Rui Baeta.