Martin Fröst e Orquestra Municipal de Sintra

20 JUNHO

21:30, Auditório Jorge Sampaio, Centro Cultural Olga Cadaval

Martin Fröst, clarinete

Cesário Costa, maestro

Orquestra Municipal de Sintra D. Fernando II

Programa:

António Leal Moreira, Sinfonia da ópera Artemisia, Regina di Caria

Wolfgang Amadeus Mozart, Concerto para clarinete em Lá maior, K.622

Igor Stravinsky, Suite de Pulcinella

Sinopse:

A Orquestra Municipal de Sintra D. Fernando II dá início a esta nova participação no Festival de Sintra através da escuta da raramente tocada Sinfonia que abre a ópera Artemisia, Regina di Caria, de António Leal Moreira, escrita para a corte lusa e estreada no Palácio da Ajuda em 1787, quando esta era a sede oficial da família real ainda no seguimento do terramoto de 1755, e onde tinha lugar uma vibrante e intensa vida musical, com participação dos principais compositores e intérpretes presentes no reino de Portugal ou de passagem pela sua capital.

Composto em 1791, o último ano de vida de Mozart, - também um dos mais produtivos - o Concerto para Clarinete é o pináculo de toda a literatura para clarinete e orquestra, marcando também o corolário da relação de interesse que Mozart vinha desenvolvendo com este instrumento, que em finais de século XVIII representava ainda uma invenção recente, muito se devendo a sua credibilização ao clarinetista Anton Stadler, para quem Mozart compôs várias peças, incluindo este Concerto.

Considerado como a sua despedida musical, pois foi a última obra que Mozart completou, o Concerto para clarinete explora os inúmeros recursos técnicos deste instrumento, como a sua amplitude de registos, do grave ao agudo, assim como uma enorme elasticidade e agilidade, que se somam a uma capacidade melódica notável, tornando o clarinete não só um instrumento apetecível para solistas e orquestras, como lançando aquilo que é o paradigma da escrita para um instrumento de sopro solista.

A música, essa, já se sabe: é divina. As melodias que se sucedem, a jovialidade dos andamentos externos e a beleza desarmante do andamento intermédio, o famosíssimo Adagio, o jogo de complementaridade entre solista e orquestra, tudo se conjuga segundo a mão do mestre num concerto que se ouve hoje com tanto prazer como há mais de duzentos anos e que nunca, desde então, saiu do repertório preferido de clarinetistas e melómanos de todo o mundo.

Estreado em 1920, representando mais uma brilhante produção do empresário e visionário Sergei Diaghilev para a companhia dos Ballets Russes, Pulcinella junta uma mão cheia de mentes geniais: Stravinsky compõe a música, Picasso realiza a cenografia e adereços, e Massine desenvolve o libreto e a coreografia.

A premissa era a recuperação da commedia dell’arte italiana, com fortes raízes partenopeias, partindo do trabalho original sobre velhas composições de Pergolesi, muitas delas supostamente esquecidas, daquele que foi um genial compositor napolitano do século XVIII, falecido aos 26 anos em 1736.

Através do aproveitamento de partituras que lhe foram enviadas de Nápoles e outras latitudes, Stravinsky reciclou o que julgava ser um conjunto de composições autênticas de Pergolesi, quando na verdade estava a trabalhar com música de pelo menos cinco autores diferentes. A famosa música de abertura, a Sinfonia, é da autoria do veneziano Domenico Gallo, por exemplo.

Apesar do erro de atribuição autoral, a música que Stravinsky decidiu utilizar apresenta uma grande coerência estilística e presta-se a uma variedade de ambientes e um colorido de emoções sem igual. A felicidade e frescura que transparecem desta música, com a orquestração e desenvolvimento de Stravinsky, não passaram despercebidas a ninguém, a começar pelo próprio compositor, para quem esta composição foi um ponto de viragem estética, dando início à sua fase neoclássica e ao resgate daquilo que eram modelos e ideais de beleza antigos, que encontraremos noutras composições imortais como a ópera The Rake’s Progress, o oratório Oedipus Rex ou o bailado Apollon Musagète.

Dada a sua popularidade imediata, Stravinsky aproveitou a música de Pulcinella para uma suite orquestral, que neste concerto se dá a ouvir, assim como uma outra suite para violino e piano, a que chamou Suite Italienne.

Sobre os artistas:

Martin Fröst

Clarinetista, maestro e artista Sony Classical, Martin Fröst é conhecido por ultrapassar os limites musicais e foi descrito pelo New York Times como tendo “uma virtuosidade e uma musicalidade insuperáveis por qualquer clarinetista — talvez qualquer instrumentista — no nosso tempo”.

Amplamente reconhecido pela procura constante novas formas de desafiar e remodelar o panorama da música clássica, o seu repertório abrange obras tradicionais para clarinete bem como uma série de peças contemporâneas que encomendou pessoalmente. Vencedor do Leonie Sonning Music Award 2014, uma das maiores distinções musicais do mundo, Fröst foi o primeiro clarinetista a receber o prémio e juntou-se a uma prestigiada lista de vencedores anteriores, incluindo Igor Stravinsky e Sir Simon Rattle. Os International Classical Music Awards elegeram-no como Artista do Ano 2022 pela sua carreira global inovadora, pela sua discografia impressionante e pela sua filantropia.

Na temporada 2024/25, continua focado no seu papel de Maestro Principal da Orquestra de Câmara Sueca, com concertos com artistas convidados internacionais como Pablo Hernández, Eric Lu e Alina Ibragimova, bem como colaborações com o Coro da Rádio Sueca. Colabora frequentemente com a Orquestra Sinfónica de Tóquio, Rundfunk-Sinfonieorchester Berlin e Kammerakademie Potsdam. Continua a interpretar o Concerto para Clarinete Weathered de Anna Clyne com orquestras como a Filarmónica de Dresden e a Orquestra Sinfónica de Trondheim. Em março de 2025, embarcou numa digressão pelos EUA e Canadá com Antoine Tamestit e Shai Wosner, apresentando um programa eclético de música de câmara. Outros destaques da temporada incluem atuações com a Orquestra Sinfónica da Rádio de Frankfurt com Riccardo Minasi, dois concertos de câmara no Wigmore Hall e um regresso à Orquestra Sinfónica de Gävle, como maestro.

Como solista, Fröst apresentou-se com as principais orquestras do mundo, incluindo a Royal Concertgebouw Orchestra, as orquestras filarmónicas de Nova Iorque e Los Angeles, a Leipzig Gewandhaus Orchestra, a Munich Philharmonic, a Philharmonia Orchestra e a NDR Elbphilharmonie Orchestra. Colabora regularmente com artistas internacionais de destaque, incluindo Yuja Wang, Janine Jansen, Leif Ove Andsnes, Roland Pöntinen e Antoine Tamestit, além de se apresentar em eventos internacionais como o Festival de Verbier na Suíça e o Mostly Mozart em Nova Iorque. Fröst atuou em alguns dos locais de concertos mais importantes do mundo, incluindo Carnegie Hall, Concertgebouw Amsterdam e Konzerthaus Berlin, e fez digressões pela Europa, Ásia, América do Norte e Austrália. Foi Artista Residente no Royal Concertgebouworkest na temporada 2022/23.

 

Cesário Costa

Cesário Costa tem vindo a distinguir-se como um dos mais ativos maestros portugueses da sua geração. Depois de concluir, em Paris, o Curso Superior de Piano, estudou Direção de Orquestra, completando a Licenciatura e o Mestrado na Escola Superior de Música de Würzburg (Alemanha). Recentemente, obteve o Doutoramento pela Universidade Nova de Lisboa, com a tese "Noble et Sentimental: Pedro de Freitas Branco e a problemática da interpretação na música de Maurice Ravel. Em 1997, foi bolseiro do Festival de Música de Bayreuth e vencedor do III Concurso Internacional Fundação Oriente para Jovens Chefes de Orquestra e, desde então, foi convidado para dirigir inúmeras formações nacionais e estrangeiras.

O seu repertório estende-se do barroco ao contemporâneo, incluindo mais de cento e trinta obras em estreia absoluta. Para além da direção de orquestras, tem exercido funções de docência e de programação musical em várias instituições. Foi Presidente da Metropolitana/Associação Música, Educação e Cultura, instituição que gere a Orquestra Metropolitana de Lisboa (da qual foi também Diretor Artístico), foi Diretor Artístico e Maestro Titular da Orquestra do Algarve, da Orquestra Clássica do Sul, da Orquestra Clássica de Espinho, da Orquestra de Câmara Musicare, da Orquestra Bomtempo, Maestro Titular da OrchestrUtópica e Diretor Artístico do In Spiritum - Festival de Música do Porto.

Paralelamente, assumiu lugares de docente em várias escolas e foi professor na Universidade Católica Portuguesa. É Investigador Integrado do CESEM (FCSH-UNL), Professor na Academia Nacional Superior de Orquestra, Programador de Música Erudita do Centro Cultural de Belém, Diretor Artístico dos Concertos Promenade do Coliseu do Porto, Diretor Artístico e Maestro Titular da Orquestra Sinfónica Ensemble e Maestro Titular e Diretor Artístico da Orquestra Municipal de Sintra - D. Fernando II.

Orquestra Municipal de Sintra D. Fernando II

A Orquestra Municipal de Sintra - D. Fernando II (OMS) é um projeto inovador da Câmara Municipal de Sintra com o objetivo de assegurar no Concelho de Sintra uma programação musical regular de elevado padrão artístico. Desde a sua estreia, em outubro de 2020, a OMS tem esgotado sistematicamente o grande auditório do Centro Cultural Olga Cadaval, palco onde está sediada. Para além do grande repertório internacional, a OMS assume também como missão a divulgação e promoção da música portuguesa, tendo já na sua curta existência realizado a estreia moderna de várias obras de autores portugueses dos séculos XVIII e XIX.

Neste trabalho de investigação, procura ainda dar a conhecer repertório inspirado e relacionado com Sintra promovendo a preservação deste património. Entre estas obras destaca-se a estreia moderna da versão de orquestra da ode sinfónica A Serra de Sintra, de Carlos Adolpho Sauvinet e ainda obras de Alfredo Keil, Duarte Alquim, João de Sousa Carvalho, António Leal Moreira ou Jerónimo Francisco de Lima. Participou no Lisbon and Sintra Film Festival - LEFFEST e gravou recentemente um concerto para a Embaixada de Portugal na China, no âmbito da Presidência Portuguesa da União Europeia tendo também sido convidada, em 2023, para realizar um concerto no âmbito das cerimónias oficiais das Comemorações do Dia de Portugal, em Paris, a convite da Embaixada de Portugal nesta cidade, concerto realizado no Palais d’Iéna. Participou nas últimas edições do Festival de Sintra. Têm colaborado com a OMS destacados solistas e intérpretes como Kristine Balanas, Luka Faulisi, Vasco Dantas da Rocha, Eduarda Melo, Joana Seara, Kátia Guerreiro, Sérgio Godinho, entre outros. A OMS tem como diretor artístico e maestro titular o maestro Cesário Costa.